O depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira (9), durante as oitivas do julgamento dos réus que compõem o núcleo crucial da trama golpista, seguiu o esperado roteiro de defesa. Mas, para o advogado criminalista Leonardo Isaac Yarochewsky, a estratégia foi além de uma simples tentativa de convencer os ministros da Corte. O objetivo foi, também, tentar manter influência nas próximas eleições.
“O ex-presidente Jair Bolsonaro aproveitou do interrogatório para falar muito mais para os seus eleitores”, avalia Yarochewsky ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Segundo ele, o interrogatório, conduzido pelos ministros Alexandre de Moraes e Luiz Fux, com presença do procurador-geral da República, Paulo Gonet, foi utilizado por Bolsonaro para “mostrar para os seus seguidores que ele não teria participação em qualquer tentativa de golpe”.
De acordo com o criminalista, a audiência manteve um “clima respeitoso e ameno”, apesar da gravidade das acusações. “Desde ontem [segunda-feira (8)], o ministro [Alexandre de Moraes] está bastante descontraído, cortês, apesar de todas as acusações”, analisa o advogado. Para ele, Moraes “foi até muito benevolente ao deixar o acusado e o interrogado falar livremente”.
Yarochewsky vê o julgamento como um “momento histórico”. Pela primeira vez, ex-membros do alto escalão das Forças Armadas são processados na Justiça comum. “Estará marcado na história do país”, afirma.
Interrogatório é apenas parte do processo
Bolsonaro confirmou que compartilhou com os comandantes militares a chamada “minuta do golpe”, documento de teor golpista encontrado em sua casa, mas negou ter feito alterações no texto. Também afirmou que não havia clima ou base sólida para um golpe de Estado. Segundo Yarochewsky, as falas fazem parte da autodefesa, um direito dos réus, mas os ministros do STF levarão em conta diversos outros elementos durante o julgamento.
“A denúncia é baseada não apenas [no interrogatório e] na delação de Mauro Cid [ex-ajudante de ordens de Bolsonaro]. Existem outros elementos probatórios que serão levados em consideração”, ressalta. Ele lembra que, entre os principais elementos do processo está o relatório da Polícia Federal, que reúne cerca de 900 páginas com evidências da participação de Bolsonaro e aliados na tentativa de golpe.
A próxima etapa do processo será a entrega das alegações finais por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR) e das defesas. Depois disso, os ministros da 1ª Turma do STF marcarão o julgamento. As possíveis condenações podem ser alvo de recursos, como embargos infringentes ou de declaração, a depender da composição dos votos.
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