Em Curitiba, nesta quinta-feira (12), os professores, funcionários de escolas, alunos e pais participaram do Ato Político em frente a Secretaria de Educação do Paraná (SEED) e dos Núcleos, pelo “fim do assédio e da política de adoecimento.” A manifestação organizada pela APP Sindicato acontece após falecimentos de duas professoras dentro de escolas quando trabalhavam.
A morte das professoras Rosane Maria Bobato, 67 anos e Silvaneide Monteiro Andrade, de 56 anos, enquanto trabalhavam, e o adoecimento de diversos educadores que vem sendo denunciado nos últimos anos é, segundo o sindicato, decorrência da política de pressão por metas e da plataformização do ensino implementada pelo Governo Ratinho Jr.

Professores adoecem e plataformas não impactam na qualidade de ensino
Presente no ato em frente à SEED, a professora de Língua Portuguesa, Sônia Terezinha Pereira, disse que os professores estão adoecendo por políticas que não vem surtindo efeito no ensino-aprendizagem. “Sei muito bem o que os professores estão enfrentando no uso das plataformas que estão adoecendo a categoria. Por isso, hoje, estamos aqui para chamar o Secretário de Educação e o Governador Ratinho Jr a entenderem o que estamos ando. De não adoecer mais, de ter condições de trabalho dignas e fim das plataformizações que não estão melhorando a qualidade do ensino,” disse.
Já para a funcionária de escola, Maria Celi, há também assedio e pressão para os funcionários. “Estou aqui, hoje, com meus colegas de trabalho para protestar contra o assédio moral que acontece, pressão contra a sobrecarga de trabalho. Infelizmente tivemos recentemente a morte de duas professoras dentro da escola e isso afeta a todos nós. E, além de perceber entre nós funcionários, percebo o quanto tem afetado os professores e o andamento do trabalho e aí prejudica a qualidade do ensino,” disse.

Como solidariedade aos professores, outras entidades e sindicatos também marcaram presença no Ato. A presidente do Sindicato dos Bancários, Cristiane Zacarias, mencionou as semelhanças com o que a categoria bancária tem ado.
“Os bancários participam hoje do Ato organizado pela APP Sindicato, porque nós, bancários em alguma medida também experimentamos em nossa rotina uma jornada de trabalho muito precarizada com terceirização, com pessoas sofrendo assédio moral e com estruturas e locais de trabalho inadequados. Hoje estamos falando sobre professores e funcionários das escolas e pedindo ao Governo Ratinho Jr. que olhe com mais respeito a essas pessoas, “disse.
E, o presidente da CUT Paraná, Marcio Kieller, reiterou a importância de unificar a luta em prol dos professores. “Estamos aqui solidários à luta dos professores e professoras do Paraná. Temos a compreensão de dar um basta aos adoecimentos, as mortes. Precisamos ter profissionais que tenham vontade de dar aula, que não considerem dar aula um fardo. Por isso, é importante que a gente esteja organizado e unificado tornado público para a sociedade paranaense o descaso do governo estadual com os nossos professore,” afirmou
A professora e coordenadora do Fórum das Entidades Sindicais, Marlei Fernandes, disse que o luto tem virado luta. “Estamos mais uma vez em luta e em luto também, em atos de mobilização em todo o Paraná. O luto se torna luta pelo fim dos assédios, fim da plataformização que tem adoecido a nossa categoria no Paraná. Temos conversado desde 2022 com a Secretaria de Educação, mas chegamos a um momento crítico do adoecimento dos professores. A categoria se levanta para fazer a luta,” disse.
Reivindicações
A APP-Sindicato tem apontado os problemas à Seed, sem que o governo tome providências. Por isso os professores vão à rua denunciar publicamente tais situações e apresentar o Movimento Plataforma Zero, com o objetivo de acabar com o adoecimento e assédio nas escolas, que tem os seguintes pontos:
1 – Plataforma Zero: Fim da obrigatoriedade das plataformas;2 – Fim dos assédios pelos NREs, embaixadores e tutores;
3 – Fim das metas e do Power BI;
4 – Fim das punições por causa da apresentação de atestados médicos;
5 – Fim de obrigação de dar presença aos estudantes faltantes;
6 – Fim das provas de treinamento;
7 – Fim da fraude do Ideb;
8 – Fim das aprovações sem conhecimento e
9 – Fim das privatizações e terceirizações
SEED continua defendendo plataformas
O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a Seed após a realização de uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Paraná em que nenhum representante do governo compareceu. No debate, a pressão por resultados e metas, fiscalização fora do ambiente de trabalho, uso excessivo de plataformas digitais e desvalorização profissional foram apontados como causas do adoecimento e até das mortes das educadoras.
Para a secretaria, no entanto, o secretário de Estado da Educação, Roni Miranda, já se manifestou publicamente de forma “respeitosa e transparente, destacando o compromisso da gestão com o cuidado e a valorização dos professores. A Secretaria segue aberta ao diálogo, mas repudia qualquer tentativa de transformar momentos de dor em instrumento de disputa ideológica”, diz a nota enviada ao BDF-PR.
Com relação ao falecimento da professora Silvaneide, seu esposo, o Pastor Argemiro Andrade, publicou em suas redes sociais que até agora não foi aberta uma investigação para apurar as causas da morte. “Será que a Seed mentiu”, indagou em post reproduzido pela APP Sindicato.
Ao Brasil de Fato, a pasta informou que “direcionou os técnicos que atuam na Educação em Direitos Humanos, assim como os profissionais de Psicologia da Equipe Multiprofissional e demais integrantes da SEED/NRE para acolhida, acompanhamento e escuta de todos os presentes na escola, inclusive dos familiares”.
A crise das plataformas
A pesquisa “Adoecimento de Servidores e Educadores da Rede Pública do Paraná”, realizada pelo professor Everton Grison, do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Ensino e Filosofia da UFPR, ouviu mais de 3 mil profissionais de educação. Ela apurou, com relação das plataformas, que 1988 pessoas se sentem sobrecarregadas com o aumento progressivo da implementação e orientação no uso de plataformas digitais realizada pela Seed. A insatisfação atingiu 1232 das respostas e o esgotamento 1159.
Os gestores, por sua vez, alegam que os recursos educacionais digitais têm sido fundamentais para apoiar o trabalho docente e facilitar o dia a dia dos professores em sala de aula.
“É importante esclarecer e reforçar que o uso das plataformas digitais tem caráter pedagógico. Os professores não são penalizados ou têm qualquer prejuízo em sua remuneração caso optem por não utilizar esses recursos”, diz a nota da SEED enviada com exclusividade ao BDF.
Os esclarecimentos concluem afirmando que “não condiz com a realidade qualquer discurso que afirme a existência de sobrecarga ou imposição no uso dessas tecnologias”.
Não é a visão dos profissionais de educação representados pelo sindicato. Em defesa do ato que ocorreu neste dia 12, a entidade ainda destaca que a imposição de metas de o às plataformas tem gerado um clima de pressão, assédio e punição nas escolas da rede pública estadual.