Casteladas, a coluna de aforismos e pensamentos, traz o gênero literário conhecido por ser o oposto do calhamaço. A frase curta – ou o fragmento – de alegria instantânea, a serviço do humor.
§ Jair Bolsonaro, que já se proclamou inimigo da covardia, que gritava bravatas com o entusiasmo de um vendedor de pamonhas, apresentou-se ao interrogatório no STF como um poodle com medo de trovão. Suas respostas, quando afinal emergiu do exílio sanitário, foram um misto de amnésia e retórica de rodapé. Ao invés do leão de outrora, tivemos o avestruz das lembranças: tudo foi esquecido, nada foi assumido, e qualquer tentativa de dignidade foi evacuada no W.C. federal.
O Brasil assistiu, entre estarrecido e enojado, a um ex-presidente responder como se estivesse brincando de Lego com as provas dos próprios crimes. “Intervenção? Nunca vi, só ouvi falar.” As câmeras captaram não um estadista acuado, mas um conspirador de pijama, um Napoleão de cercadinho.
E assim, ao fim de horas de inquirição, com o país esperando um mínimo de verdade e recebendo apenas flatulências verbais, ficou claro que o verdadeiro legado do bolsonarismo talvez não seja político, nem ideológico, mas gastrointestinal.
§ Essa de chamar professor de mister já mostra o tamanho do nosso viralatismo.
§ Globonews e outras mídias gordas já entoaram sua ária: Bolsonaro deve cumprir prisão domiciliar.
Seus comentaristas deixam entrever nas entrelinhas que a situação exige ponderação. Anunciam com voz grave, quase sensual, que a prisão domiciliar é um meio-termo civilizado. Civilizado para quem, cara-pálida? Para o pobre, por exemplo, não há “domiciliar”. Há bala, cela, e, se sobrar tempo, talvez uma missa de sétimo dia. Já o ex-presidente golpista, que rifou a sanidade nacional através de memes e cloroquina, esse ganha suíte com ar-condicionado.
Enquanto isso, a massa assiste ao teatro pela telinha do celular. Uns pedem sangue, outros pedem paz, mas a maioria esquece que a justiça, quando é calibrada para não incomodar, já deixou de ser justiça. Virou acordo. Conchavo. Conforto para quem nunca pagou a conta.
Prender Bolsonaro em casa é como trancar o lobo na despensa e achar que ovelhas vão dormir melhor.
E, no fim, como todo bom dramalhão, o do Messias também acaba com um final previsível: a mídia enxugando uma lágrima que não existe, o ex-presidente fingindo arrependimento, e o povo puxando a carroça.
§ A verdade não morreu, só foi soterrada por milhões de vídeos de gente que acredita que a Terra é plana.
*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.